O cérebro humano é o mais complexo sistema biológico conhecido, com uma estimativa de mais de 100 bilhões de neurônios conectados por sinapses. Uma complexidade ainda maior é estimada pela ação de mais de 100 neurotransmissores, muitos dos quais interagem com vários receptores diferentes, em múltiplas localizações anatômicas.
Para o psiquiatra Thiago Tahan, essa imensa complexidade cerebral pode explicar o fato de que pacientes diferentes respondem de maneiras diferentes ao mesmo tratamento medicamentoso. Ou seja, nenhum fármaco é 100 % eficaz para todos os indivíduos. “De fato, cerca de 30 a 50% dos pacientes que iniciam um tratamento medicamentoso acabam não tendo resultados eficazes em curto prazo ou acabam tendo algum tipo de reação prejudicial à sua saúde, impedindo sua melhora ou estabilização”, expõe.
Conforme relata o especialista, estima-se que a genética pode ser a razão de 20 a 90% da imensa variação de ação (nenhuma, pouca, suficiente ou muita ação) dos medicamentos e dos seus efeitos colaterais (ausentes, discretos, importantes ou intensos). Por exemplo, a medicação, uma vez administrada, será absorvida e distribuída até o local de ação, onde irá interagir com enzimas ou receptores, para depois ser metabolizada e, por fim, eliminada do corpo.
“Cada um desses processos pode envolver alterações genéticas significativas, com capacidade direta de influenciar a reposta e eficácia de uma medicação. E estudar essas alterações genéticas de forma individualizada está trazendo novos horizontes à psiquiatria”, revela doutor Thiago.
A farmacogenética, portanto, é uma ciência que estuda como diferentes fatores genéticos influenciam a variação de resposta ao uso de determinada medicação. Seus alvos mais importantes são os genes que codificam enzimas responsáveis pela farmacocinética (absorção, metabolismo e excreção) e pela farmacodinâmica (interação com receptores) dos medicamentos.
Dessa forma – explana o psiquiatra – ao se investigar todas essas alterações genéticas nos processos que envolvem medicação x paciente, pode-se adaptar as decisões do tratamento, buscando um resultado mais efetivo, num menor espaço de tempo e com risco diminuído de efeitos colaterais. Determinar qual medicação usar de acordo com a constituição genética do paciente é chamada de Medicina Personalizada, cada vez mais estimulada no meio científico.
“O teste Farmacogenético para Sistema Nervoso Central é um exame complementar; mais um arsenal terapêutico. Não substitui, claro, a necessidade de uma avaliação psiquiátrica criteriosa. Mas ter em mãos informações valiosas de como as medicações agem (ou não) no nosso corpo, pode determinar uma resposta muito mais rápida a um tratamento para Depressão, Ansiedade ou Transtornos Bipolares”, argumenta o médico.
“Vale ressaltar que a genética já é uma arma muito utilizada na medicina, principalmente na oncologia. A famacogenética ainda é um bebê engatinhando dentro da medicina atual, com muitas respostas a serem produzidas. Mas os inúmeros estudos (americanos e europeus) confirmam a importância dessa nova ferramenta no tratamento psiquiátrico”, comenta doutor Thiago. “Qualquer dúvida, procure seu psiquiatra e converse a respeito. Toda forma de ajuda que a ciência nos proporciona deve ser tentada e disseminada, pelo bem-estar do paciente”, finaliza.
Análise profunda
No teste mais completo hoje no mercado, são analisados 26 genes de metabolismo/resposta e cerca de 80 medicamentos que atuam no Sistema Nervoso Central. Avalia-se, por exemplo, o gene MTHFR (que envolve o metabolismo do metilfolato) que impacta diretamente a síntese dos principais neurotransmissores envolvidos nas doenças psiquiátricas: Serotonina, Noradrenalina e Dopamina. Uma redução na atividade enzimática desse gene envolve produção ineficiente desses neurotransmissores, e parece estar ligado à maior gravidade dos quadros e piores respostas aos Antidepressivos.