A enurese noturna (EN) é definida como perda involuntária de urina durante o sono em crianças com mais de cinco anos. Fazer xixi na cama é uma situação que acomete mais meninos do que meninas, em uma proporção de duas a três vezes mais. O problema gera muitos transtornos tanto para a criança quanto para a família. A enurese pode ser classificada como primária ou secundária. No primeiro grupo estão as crianças que nunca conseguiram deixar de usar fraldas durante a noite, e no segundo grupo estão aquelas que pararam de usar fraldas, mas depois de algum tempo voltaram a fazer xixi na cama.
“Antigamente, a enurese era considerada uma alteração de comportamento da criança, que muitas vezes era submetida a castigos e punições. Atualmente, sabe-se que fazer xixi na cama não é culpa da criança”, expressa a pediatra Brunna de Freitas Castello Melo. “São alterações orgânicas e hormonais que justificam esse problema. Crianças que têm pais ou parentes próximos que foram enuréticos têm mais probabilidade de fazer xixi na cama, o que caracteriza, em muitos casos, a origem genética do problema”, esclarece.
Segundo a especialista, outras situações clínicas podem ter a enurese como primeira manifestação sintomática. O diabetes, as disfunções miccionais e doença renal crônica são algumas delas. Alterações psicológicas também podem levar ao aparecimento da enurese, como a separação dos pais, perda de parentes próximos ou mesmo troca de escola. “Quem não conhece uma criança que voltou a fazer xixi depois do nascimento de um irmãozinho?”, exemplifica.
A médica relata que o tratamento da enurese pode ser realizado com abordagens diversas, desde o treinamento usando alarmes de cabeceira, exercícios fisioterápicos, até medicações que vão atuar na produção urinária noturna. “Só um médico poderá indicar o melhor para cada criança. Por isso a importância do acompanhamento pediátrico sempre. Cada caso deve ser individualizado levando em conta os sentimentos da criança e a dinâmica familiar”, ressalta.
Durante o tratamento, doutora Brunna menciona que a criança deve ser encorajada a assumir responsabilidade por seu próprio aprendizado e, ao mesmo tempo, deve receber apoio emocional e reforço positivo dos pais. Pode-se incluir, por exemplo, em “calendário sol-chuva” ou “mapa de estrelas”, proporcionando elogios associados ao número de noites secas, evitando punições em qualquer situação.
O uso de fraldas, de acordo com a especialista, deve ser desestimulado. “Outra medida simples é sinalizar e iluminar o caminho até o banheiro, evitar obstáculos e assim facilitar que a criança se levante para realizar a micção noturna”, orienta. “Deve-se estabelecer, também, um ritmo urinário adequado com micções a cada três horas e ritmo intestinal normal. É importante a verificação destas medidas no horário escolar, sendo fundamental a comunicação com os educadores”, aponta.
Acompanhamento psicológico
A indicação para tratamento psicológico, conforme explana doutora Brunna, deve ser individualizada. É importante salientar que a enurese noturna pode cursar com e acarretar distúrbios emocionais, como redução da autoestima e ansiedade, sendo muitas vezes subnotificada pela família, principalmente em períodos iniciais.
“É importante lembrar que os casos de EN secundária (caso o controle noturno já tenha ocorrido por um período maior que seis meses) podem estar associados a situações de estresse, tais como separação dos pais, morte de familiar próximo, nascimento de irmão, entre outros. Estes também podem se beneficiar de acompanhamento psicológico”, frisa.
A pediatra Brunna Castello
Foto por Erika Medeiros