Por Tatielly Baião Bonan
Psicóloga
Se você se sente esgotado, talvez seja como vários dos meus pacientes que chegaram à terapia sobrecarregados, sem imaginar a razão de estarem assim, muito menos como achar uma saída. Não é incomum encontrarmos entre as causas do problema uma tendência em dizer “sim” para tudo e todos. Esse comportamento padrão disfuncional pode ser o grande vilão.
Quantas vezes você já se pegou dizendo “sim” à algum pedido abusivo, simplesmente para não desagradar o outro? Nem sempre é fácil dizer “não”, sobretudo se você teve uma educação pautada em tornar-se uma pessoa gentil e generosa, mas com baixo repertório de recusa. A falta desse equilíbrio pode ser hoje uma das razões para você ficar tão desconfortável em dizer “não”.
Mas se engana quem acredita que dizer sempre “sim” seja uma boa estratégia para se dar bem com todo mundo e evitar conflitos. Entenda que é impossível agradar a todos. Aposto que ao dizer “sim” para uma pessoa, outra se chateou com você. Quantas vezes você não conseguiu recusar um pedido de um amigo ou parente e acabou arrumando uma encrenca em casa com seu cônjuge?
Saiba que para todo “sim” existe um “não” correlato. Ao dizer “sim” para o outro, você pode estar dando a si mesmo um “não”. Você se aperta, se prejudica, se sobrecarrega, não se faz prioridade, não se respeita, ou se frustra pela falta de reciprocidade. O seu “sim” descriterioso pode fazer mal a você.
Além do desejo de sempre agradar, coexiste a intensa preocupação do que o outro irá pensar a seu respeito. Isso é uma prisão. O que o outro pensa é de responsabilidade dele, não sua. Entenda que você tem o direito de fazer suas escolhas e precisa se comprometer com seu desejo, e que o mesmo muitas vezes não corresponderá ao do outro. E diante desse conflito, qual costuma ter prioridade, o seu desejo ou o do outro? Muitas vezes, a exaustão vem de uma constante perda nesse jogo.
Na prática, existem inúmeras possibilidades de resposta diante de um pedido. Antes de emitir seu costumeiro “sim”, reflita se você tem de fato as condições de atender à solicitação; isso implica avaliar seu tempo, recursos, capacidade e compromissos com outras pessoas. Caso tenha outra prioridade, pode tentar negociar um prazo para que não prejudique seus interesses, para que você não tenha que parar de fazer algo em andamento para atender ao outro; ou ainda, encaminhe e indique uma outra pessoa para realizar o pedido. E lembre-se, nada de se sentir culpado. Assim como alguém pode pedir algo, você pode recusar.
Essa reflexão não é uma apologia ao egoísmo, mas sim um questionamento para aqueles que ainda não encontraram o equilíbrio entre o servir e dizer “não”. Ora, eu sei que desde pequenos somos ensinados a sermos gentis e a agradar, mas amadurecer significa estabelecer uma relação saudável entre o desejo do outro e nosso limite.
Tatielly Baião Bonan é Psicóloga especialista em Terapia cognitivo-comportamental, Terapia de família e Coach Parental (CRP 1314/16). O Family Care está localizado no Shopping Cachoeiro: Rua 25 de Março, 33, sala 212 – Centro. Telefone: (28) 99959-0650. Siga Tatielly no Instagram: @tatiellybonan.