O dia das mães é a segunda data festiva mais celebrada em nossa cultura, ou seja, para onde quer que olhemos haverá uma menção para o tema maternidade. E este é um assunto que desperta muitos sentimentos.
Desde pequenas, as meninas são estimuladas a brincar de casinha, e ao dirigirem e atuarem em tantas cenas representativas de contextos envolvendo famílias, alimentam o desejo de um dia tornar realidade essa brincadeira de segurar um bebê nos braços.
O problema é que nem sempre esse desejo se realiza como sonhado. Recebo mulheres que não conseguiram engravidar, outras que deixaram o tempo passar ao priorizarem a carreira, outras que ficaram aguardando o homem ideal, outras que adoeceram e precisaram retirar o aparelho reprodutivo, enfim… não se tornaram mães.
Eu compartilho da dor de ocupar esse lugar, a de uma mulher que não foi mãe. E como elas, me senti insuficiente, já chorei incontáveis noites, e em muitas delas tive sonhos nos quais eu era mãe e estava ao lado de um filho amado, mas ao acordar, chorava por não ser real e passava dias sentindo uma saudade profunda da criança que existiu apenas em minha imaginação.
Eu amo crianças, e não seria feliz se atendesse apenas adultos. Preciso desses dois universos em minha vida. E claro, nesses 20 anos do consultório ouço a pergunta “Você tem filhos?”, antigamente, eu me sentia humilhada ao dizer que não, como se por essa razão eu fosse menor que as mulheres portadoras da indagação, e temia que elas me achassem incapaz de ajudar suas famílias.
Há um tempo percebi que durante algumas situações no consultório passei a falar coisas do tipo “Nossos filhos…”, “Nós, pais, sabemos…”, e, embora eu não me sentisse incomodada, nem cometendo uma fraude, eu sabia que havia algo oculto se revelando nesse modo de falar, mas eu não entendia ao certo o que era. E foi o pai de uma paciente que decifrou minha charada inconsciente em uma conversa com sua esposa. Segue o relato:
Esposa: “Mas a Taty tem que casar, pra ela ter filhos…”
Marido: “Ela já tem muitos filhos. Olha como ela cuida das crianças, olha o carinho com que ela trata das meninas, ela nos ajuda a educá-las.”
A mãe me contou isso despretensiosamente, apenas para dizer o quanto faço parte da rotina da família, porque meu nome é sempre citado nas conversas. Dias depois, quando ela voltou ao consultório, compartilhei o quanto esse comentário respondia questões profundas de meu coração. Muitas vezes eu briguei com Deus e questionei “Como eu, que amo cuidar das crianças, não tenho a benção de ser mãe? Por quê?”.
Esse pai trouxe um conforto ao meu coração, que nenhuma sessão dos meus longos anos de terapia foi capaz de ofertar. Ele me fez mãe, ele me fez mãe através das filhas dele e de todas as crianças que tenho o privilégio de cuidar e dar amor.
Para muitas de nós, a experiência mais próxima de ser mãe virá dos atos de maternagem, ou seja, dos momentos em que nos dispomos a cuidar com amor de outras pessoas, crianças, afilhados, sobrinhos, dos nossos pais já idosos, dos nossos pets, das plantas, não importa. Onde houver uma intenção e a oportunidade de cuidar, se revelará essa nossa porção latente.
Tatielly Baião Bonan é Psicóloga especialista em Psicanálise, Terapia cognitivo-comportamental, Terapia de família e Educadora Parental (CRP 1314/16). O consultório está localizado no Shopping Cachoeiro: Rua 25 de Março, 33, sala 212 – Centro. Telefone: (28) 99959-0650. Siga Tatielly no Instagram: @tatiellybonan