Especialistas falam sobre o uso de tecnologia na infância

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Jessica Castelo
jessica@editoraviver.com.br

 Em tempos onde a tecnologia está cada vez mais presente na vida de todos – dos mais jovens aos idosos – é possível notar uma introdução cada vez mais precoce das crianças a smartphones, tablets, notebooks, TVs e afins. Mas afinal, essa inserção dos pequenos ao mundo tecnológico é inofensiva ou pode trazer prejuízos? Uma pesquisa realizada pela AVG Technologies com famílias do mundo todo, em 2014, mostrou que 47% das crianças entre três e cinco anos sabia como usar um smartphone, mas apenas 14% era capaz de amarrar os sapatos sozinha.Conforme explana o pediatra Pedro Scarpi Melhorim, o interesse das crianças pela tecnologia é um espelho do comportamento dos pais. Já que os adultos estão mais conectados, consequentemente os pequenos os imitam. “Outro fator importante é que devido à falta de tempo, os pais acabam lançando mão dos eletrônicos para entreter os filhos a fim de que eles possam realizar outras tarefas”, explica.Vale ressaltar que a tecnologia, em si, não é um problema. O perigo está no excesso e na falta de monitoramento do que é acessado pelos pequenos.

 “A internet disponibiliza um grande leque de conteúdo – muitos bons, mas outros bem perigosos”, alerta doutor Pedro. Com relação ao tempo de exposição, equilíbrio é a palavra-chave. “Diversos estudos orientam que o limite diário deve ser de duas horas”, aponta.Tendo em vista que grande parte do desenvolvimento cerebral infantil ocorre nesse período, a recomendação do pediatra é que a inserção da criança à tecnologia aconteça a partir dos dois anos de idade. “É importante que ela passe mais tempo brincando com objetos que ela possa tocar, montar, pintar, enfim, realizar atividades lúdicas”, esclarece. Fundamental, também, é proporcionar aos pequenos o contato com a natureza e atividades ao ar livre. Segundo o médico, estudos comprovam que passar muito tempo dentro de casa, que é um ambiente excessivamente limpo, pode levar a distúrbios respiratórios e alérgicos, além da maior probabilidade de adquirir infecções ao sair, visto que o desenvolvimento de sua imunidade não ocorreu adequadamente.Outro problema decorrente do mau uso da tecnologia na infância é a obesidade. “Temos observado um grande número de crianças obesas devido à falta de atividades físicas. As crianças hoje, em geral, passam muito tempo diante da TV e outros aparelhos e não praticam atividades como jogar bola, andar de bicicleta, entre outras”, argumenta o especialista. “Além disso, o convívio com outras crianças é importante para a formação pessoal; aprender a ganhar e perder é algo necessário e que vai evitar frustrações na vida adulta”, relata.

 

Olhares

ATENTOS

Fadiga visual, cefaleia, olho seco e até miopia podem ser consequências do foco dos olhos diante dos aparelhos eletrônicos  Seja para educação ou entretenimento, o fato é que as crianças estão usando cada vez mais os dispositivos eletrônicos. A visão de perto é, por esse motivo, muito requerida. A oftalmologista pediátrica Viviane Bernabé Cardozo explica que no olho, para a realização do “foco”, dá-se a contração de um músculo, um processo chamado de acomodação. “Com o estímulo contínuo da acomodação, as crianças podem desenvolver fadiga visual, cefaleia e olho seco. E embora ainda seja controverso, acredita-se que possa também estimular o desenvolvimento ou aumento da miopia”, revela a especialista, acrescentando que nos países desenvolvidos, onde o acesso à tecnologia é maior, constatou-se um aumento expressivo do percentual de crianças com miopia.A médica alerta para alguns sinais que podem indicar algo de errado com a saúde ocular dos pequenos. “Os pais devem observar se seu filho está frequentemente esfregando os olhos, piscando excessivamente, inclinando a cabeça ao ler ou assistir TV, apresentando cefaleia, dor nos olhos, fadiga ocular e queixa de visão turva ou dupla”, recomenda. “Caso algum desses sinais seja frequente, procure um profissional especializado”, diz.Algumas orientações práticas, de acordo com a especialista, podem minimizar problemas futuros. “Estabeleça horários e pausas durante o uso de dispositivos – cinco minutos para cada meia hora de uso e mantenha os dispositivos móveis a pelo menos 30 centímetros de distância dos olhos”, propõe.Outras recomendações de doutora Viviane são utilizar o computador numa inclinação de 10 a 20 graus abaixo do nível dos olhos, ajustar a luminosidade e o contraste do aparelho móvel, lembrar de piscar com frequência e, se necessário, usar lubrificantes oculares. Além disso, é preciso encorajar a criança ao desenvolvimento de atividades ao ar livre. A busca pelo equilíbrio

Tecnologia e infância combinam? Muitas são as dúvidas diante dessa pergunta. A busca por um equilíbrio, nesse sentido, se torna fundamental. “As ferramentas tecnológicas fazem parte da nossa vida e as crianças precisam, sim, ter acesso às possibilidades oferecidas pela tecnologia, mas de uma forma organizada e orientada para que possam levar a um efetivo aprendizado”, argumenta a psicóloga Carla Roberta do Nascimento Vargas.

A profissional ressalta que o uso descontrolado da tecnologia, tanto no ambiente escolar, como em casa, pode atrapalhar o aprendizado da criança. “Tudo em excesso faz mal. As crianças da geração atual, ou geração Z, nasceram na era dos computadores, tablets, smartphones e, principalmente, da internet. Assim, essas crianças possuem maior facilidade e um rápido aprendizado quanto ao uso das tecnologias”, expõe.

A psicóloga explica que as crianças são fascinadas pelas imagens coloridas, jogos e por saber que podem dominar aquele objeto, escolhendo o que querem assistir ou não. “Nesse sentido, a pergunta que não quer calar é: o uso prematuro de tecnologia beneficia ou prejudica o desenvolvimento da criança? E a resposta é: depende. Depende de quanto tempo a criança fica em frente ao celular ou tablet. Limites são sempre bem-vindos; acompanhar o que os filhos assistem também é muito positivo”, salienta.

Ainda conforme elucida Carla, é importante um olhar atento, pois a criança está em desenvolvimento. “O uso da tecnologia não pode ser vinculado a algo da rotina dela (por exemplo, a criança só almoça ou só dorme depois que pega o tablet).  Na primeira infância, a vivência com a tecnologia deve existir sempre na tentativa de ensinar algo e nunca substituir as experiências reais e concretas que essa criança precisa viver”, finaliza.

Fotos: Erika Medeiros e Jonathan Lessa



A revista Viver! é publicada mensalmente há mais de 17 anos com circulação no Espírito Santo. Trata-se de uma das mais importantes revistas de saúde do Brasil, com centenas de especialistas em prol do dilema "Informação que faz bem".


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