Falta de gestão ocasiona Desperdícios de recursos

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Wagner Medeiros Junior

Economista e Especialista em Gestão de Saúde

Além da corrupção que subtrai enorme quantidade de recursos financeiros que poderiam servir para melhorar a saúde da população, o Sistema Único de Saúde (SUS) carece de melhor gestão em todos os níveis, seja no âmbito dos municípios, dos estados ou do governo federal. A falta de gestão ocasiona desperdícios de recursos materiais e humanos, além de inviabilizar o desenvolvimento harmonioso do sistema.

Um dos fatores que tem dificultado a organização do SUS é a gestão política, uma vez que a cada eleição quase sempre são realizadas mudanças na administração do sistema, o que na maioria das vezes acarreta descontinuidade em diversas ações e serviços. O fato é que não há uma legislação específica que obrigue aos gestores públicos utilizar o pessoal de carreira nos organismos diretivos.

E tais mudanças acontecem com mais intensidade justamente nos municípios, que são

os responsáveis pela atenção primária, que congrega todas as atividades básicas, desde a promoção à saúde aos atendimentos de médicos comunitários ou de família. Tal área responde por cerca de 80% das necessidades dos cidadãos. Mas, por infortúnio, comumente se observa secretários municipais nomeados sem a mínima aptidão e conhecimento do setor.

Atualmente as três esferas de governo gastam o montante anual de 295 bilhões de reais no custeio do SUS. Segundo o Banco Mundial, uma melhor eficiência nos gastos poderia resultar em uma economia anual de 16,5% nos recursos utilizados, “que seria fundamental para garantir a sustentabilidade do sistema em um cenário de subfinanciamento e envelhecimento da população”.

Um dos graves problemas apontados e que dificulta a melhor utilização dos recursos é a falta de integração da atenção primária com a média e a alta complexidade. A porta de entrada do sistema deveria ficar restrita às unidades de médicos de família e de clínicas gerais, da forma como ocorre em todos os sistemas universalizados. No Brasil, entretanto, observa-se sobreposição de funções, com ofertas de serviços básicos nas áreas de especialidades e hospitalar. Isto resulta sobrecarga do sistema, uma vez que inúmeros problemas poderiam ser resolvidos na atenção básica.

De acordo com o representante do Banco Mundial no Brasil, responsável pela área de saúde e nutrição, economista Edson Araújo, “quanto mais eficiente for a atenção primária, melhores serão os resultados da média e alta complexidade do SUS”, uma vez que só chegariam naquelas unidades os casos de maior complexidade, ou seja, cerca de 20% da demanda.

Outra questão que seria fundamental é a atuação mais efetiva de outros profissionais da saúde, sobretudo de enfermeiros, principalmente em regiões carentes de médicos. Isto contribuiria para o diagnóstico precoce e tratamento de doenças como diabetes e hipertensão, que poderiam ser controladas evitando assim sérios agravos, tais como AVC’s, infartos, doenças renais crônicas, entre outros.

Portanto, o problema do SUS não pode ser resumido exclusivamente à falta de recursos financeiros. Além de formar gestores capacitados há que ter determinação para mudar o quadro em que o Brasil se encontra. Caso contrário, estaremos fadados a continuar gastando muito dinheiro e seguir patinando.

Wagner Medeiros (foto: Comunicação HECI)



A revista Viver! é publicada mensalmente há mais de 17 anos com circulação no Espírito Santo. Trata-se de uma das mais importantes revistas de saúde do Brasil, com centenas de especialistas em prol do dilema "Informação que faz bem".


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