O processo de defecação é desencadeado pelo volume das fezes no reto, o qual exerce uma pressão no assoalho pélvico. Causando o relaxamento dos esfíncteres anais interno (involuntário) e externo (voluntário), juntamente com a contração do reto, resulta na evacuação.
A Incontinência Fecal (IF) é uma alteração funcional desse processo, que leva à perda involuntária das fezes líquidas, pastosas, sólidas ou flatos. “Trata-se de um problema relativamente comum, mas pouco falado devido ao pudor do paciente. Consequentemente, gera-se insegurança, perda da autoestima, angústia, depressão, transtornos físicos, mentais e sociais, que podem contribuir para uma piora na qualidade de vida dos indivíduos”, afirma a fisioterapeuta Isabela Bernardes.
Estimativas feitas em vários países indicam haver um número expressivo de indivíduos com IF, especialmente naqueles com idade superior a 60 anos. Alguns estudos realizados nos EUA, conforme relata a profissional, indicam prevalência de 45% nos idosos e mais de 12% da população adulta. No Brasil, estima-se uma prevalência de 2 a 7%, entre adultos da população geral.
De acordo com Isabela, a incontinência pode ser causada por traumas, disfunções neurológicas, consequências de acidentes graves, operações sobre a região anal, com lesão dos esfíncteres e pode também ser congênita (presente desde o nascimento). “Algumas lesões são imediatamente reconhecidas e tratadas, outras só se manifestam muitos anos depois. Estudos demonstram que independente das causas, a IF é principalmente caracterizada pela fraqueza do assoalho pélvico e musculatura do canal anal”, diz.
O tratamento fisioterapêutico, segundo a profissional, tem como objetivo a melhora da propriocepção do períneo (consciência dos músculos da pelve), tônus muscular, coordenação e força, promovendo também mobilidade aos tecidos. “Atuamos com o treinamento muscular do assoalho pélvico (consciência da musculatura, contração muscular isolada, relaxamento, exercícios musculares funcionais e integrados às atividades diárias)”, ressalta.
Outro método utilizado no tratamento é o Biofeedback – o qual fornece o monitoramento por aparelhos das respostas musculares e oferece uma melhor consciência e compreensão. Além da eletroestimulação, que recruta através da corrente elétrica os músculos do assoalho pélvico, os esfíncteres e o suporte nervoso que o seguem.
“Estas técnicas de reabilitação devem ser acompanhadas por um fisioterapeuta especializado na área da Fisioterapia Pélvica e podem ser utilizadas independentes ou combinadas, produzindo o melhor resultado para o paciente. É de extrema importância a reeducação do estilo de vida, ingestão de líquido e intervenções alimentares, isoladamente ou em conjunto às abordagens de reabilitação do assoalho pélvico”, orienta Isabela.