Viver! – A pandemia obrigou a sociedade a se readaptar rapidamente às novas circunstâncias. Como essas mudanças afetaram a saúde mental das pessoas, em geral?
Dr. Thiago – A pandemia, a necessidade de se isolar e se distanciar de outras pessoas, normalmente causam situações muito ruins que atrapalham muito nosso bem estar, principalmente mental, tais como: mudança de rotina; perda de liberdade; preocupação com perdas econômicas/desempregos; medo, insegurança, falta de respostas concretas; sentimentos de raiva, tédio, solidão e desamparo. Tudo isso pode levar a quadros variados, como depressão; transtornos de ansiedade; reação ao medo; reação aguda ao estresse; Burnout; TOC; paranoias; abuso de álcool e drogas e até mesmo suicídio.
Viver! – Na sua opinião, o que seria o “novo normal” pós-pandemia, que tanto se fala?
Dr. Thiago – Países europeus e asiáticos, que estão alguns meses na nossa frente nessa pandemia, se deparam com uma nova realidade: antigos comportamentos foram substituídos por hábitos de higiene reforçados, mudanças no modo de trabalho e até na forma com que as crianças vão às aulas. É o “novo normal”, em que o cuidado para evitar novas contaminações acaba sendo a regra. Muitas adaptações ocorreram durante a pandemia e provavelmente permanecerão, como, por exemplo, a cultura do home office, que foi implementada e deve continuar mesmo quando cessarem as políticas de isolamento.
A solidariedade foi (e continua sendo) um ponto chave desta pandemia. Estávamos muito individualistas e não estávamos, como sociedade, prontos para agir. É a filantropia emergencial, que vimos em nosso estado nas enchentes de janeiro desse ano! A ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), em meados de junho, já calculava mais de R$ 5,5 bilhões doados por empresas, famílias e pessoas físicas. Nas redes sociais, a temática ambiental também ganhou força. Os reflexos observados no meio ambiente, que, em meio ao caos, “respirou” mais aliviado, segundo especialistas, são extremamente positivos.
Espera-se que este momento em que as pessoas estão reclusas seja propício para uma reflexão sobre prioridades, que deve trazer mudanças reais na forma como nos relacionamos com o meio que pertencemos. É preciso que saiamos da pandemia com lições aprendidas e incorporando hábitos permanentes de vida. E, principalmente, que possamos realmente valorizar o que deve ser valorizado: nossa família, nossos relacionamentos sociais, nos preocuparmos com o próximo, termos mais empatia e uma prática religiosa que possa nos confortar, aumentar nossa resiliência e nossa fé no amanhã.
Viver! – que medidas devemos tomar para manter a saúde mental em dia diante dessa transformação global?
Dr. Thiago – Enquanto lidamos com isolamento e distanciamento social: construir uma nova rotina (tentar manter horários e rotinas de antes); tornar o isolamento tolerável; altruísmo no lugar do egoísmo; boas ações em prol da sociedade; buscar informações de qualidade; usar redes sociais para benefício (novos aprendizados; filmes, séries; lives); buscar opções criativas de lazer (música, pintura, entre outras); atividade física regular (mesmo em espaços pequenos; busque alternativas); evitar abuso de álcool e drogas; manter a mente ativa.
Crianças e idosos
Como lidar com nossas crianças:
– Conversar com elas sobre a pandemia, com linguagem clara para a idade;
– Tranquilizá-las que estão seguras e dizer que está tudo bem se estiverem chateadas, com medo ou angustiadas;
– Compartilhar como lidamos com o estresse para que elas possam aprender também;
– Limite o aceso da família às notícas ou mídias sociais;
– Tente manter as rotinas regulares, como se estivesse normal (aprendizado e lazer);
– Seja um modelo para seus filhos: se alimente bem, durma, faça pausas, tenha lazer;
– Conecte-se com amigos e familiares. Mantenha o bom humor.
Como lidar com nossos idosos:
– Grupo de maior risco;
– Isolamento e distanciamento social geram sofrimentos mentais, principalmente depressão;
– Usar tecnologia para manter contato;
– Fornecer auxílio para compras (supermercado, farmácia, entre outros);
– Demostrar atenção e afeto, sempre.