“Não tenho marcas no corpo, tenho marcas na alma”. Foi assim que se iniciou o atendimento de uma paciente que havia terminado um relacionamento de sete anos. “E é assim, fragilizadas, com autoestima e o amor próprio abalados, que se sentem milhares de mulheres que passam por violência emocional”, revela a psicóloga Tatielly Bonan.
Mas afinal, do que se trata a violência emocional? Conforme salienta a profissional, ainda que possa se agravar e chegar à violência física, a violência emocional é um tipo de agressão que afeta o estado psicológico da vítima, o que torna difícil sua identificação. “O agressor tem a habilidade de manipular, controlar o que o outro pensa e faz, conseguindo fazer com que a vítima chegue até mesmo a duvidar de si e da realidade. O sentimento de impotência, desesperança e medo passam a fazer parte do dia a dia”, expressa.
Como toda forma de violência, seu desenvolvimento é gradual. De acordo com a psicóloga, essa característica é que permite o tempo necessário para que a futura vítima se apaixone pelo agressor e tenha dificuldade em terminar o relacionamento. “Ah, e ele, claro, costuma se apresentar como um candidato perfeito: é educado, atencioso, protetor e romântico”, aponta.
Com o tempo, porém, tudo isso que parecia ser o sonho se realizando, vai se transformando em um pesadelo. “A educação dá lugar às grosserias, a atenção se transforma em milhares de mensagens e ligações que se não atendidas imediatamente farão com que a vítima tenha que lidar com o mau humor ou acusações infundáveis, a proteção vira desconfiança de todos os amigos e ex-namorados”, relata Tatielly.
Ainda segundo a profissional, o romantismo dá lugar ao isolamento dos amigos e familiares, pois não há espaço para ninguém mais além do casal. “A manipulação ganha tanta força que a vítima pode pensar que a culpa de tudo é dela, que é exagerada, que provoca o abusador, ou que está louca”, diz.
Tudo isso pode ser intercalado com a fase “lua de mel”, marcada por milhares de pedidos de desculpas do abusador, presentes, demonstrações de amor, promessas e mudanças temporárias, o que renova na vítima a esperança de voltar a ser como era no início, dificultando o término definitivo do relacionamento abusivo.
A terapia, conforme elucida Tatielly, é muito importante para ajudar no reconhecimento desse jogo abusivo, para que a vítima consiga romper com todas as amarras do relacionamento e a lidar com os traumas vivenciados. “Sei que pode não ser fácil, eu mesma levei um tempo para conseguir, mas com apoio familiar e psicológico a recuperação se faz possível, e podemos nos preparar para vivermos um relacionamento de fato amoroso e real”, finaliza.
Fique atenta aos sinais
Alguns sinais de que você está em um relacionamento com abuso emocional:
– Te dá atenção e cuidado extremos;
– Tem ciúmes exagerados;
– Fala que você é inocente, por isso não percebe as segundas intenções das outras pessoas;
– Faz acusações irreais;
– Fica emburrado quando você sai com amigos e familiares;
– Te culpa pelo que acontece de errado no relacionamento;
– Te agride indiretamente, destruindo objetos da casa, dando socos na parede, correndo com o carro, e outras ações que lhe fazem sentir medo;
– Faz comentários depreciativos e te insulta;
– Alega que você é louca, sensível demais ou exagerada;
– Mente e é infiel;
– Vigia suas redes sociais;
– Alega que todo casal vive isso.
Tatielly Baião Bonan – Psicóloga especialista em Terapia cognitivo-
comportamental, Terapia de família e Coach Parental (CRP 1314/16).
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